segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O HAITI É AQUI!

Em janeiro de 2010 o Haiti viveu uma tragédia de proporções diluvianas. O forte abalo sísmico levou à morte mais de 200 mil pessoas. Trezentas mil pessoas foram feridas. Mais de quatro mil tiveram membros amputados.
Passados mais de doze meses o país ainda está longe de alcançar o mínimo de normalidade. A ajuda humanitária da comunidade internacional não tem sido suficiente para que o povo sofrido daquele país se restabeleça da tragédia.
Estivemos em Brasiléia a serviço da Defensoria Pública, eu e o assistente jurídico, Gilliard Souza.  Ali permanecemos do dia 11 ao dia 16 deste mês. Constatamos in loco o sofrimento dos haitianos que batem à nossa porta pedindo socorro.
Diariamente víamos aqueles jovens perambulando pelas ruas e praças da cidade. Decidimos fazer-lhes uma visita e ouvir os seus dolorosos relatos da viagem até o Brasil e como estão vivendo no nosso meio.
Na sua maioria esmagadora são jovens, cujas idades situam-se entre 20 e 35 anos. São bem apessoados, decentemente vestidos, no aspecto pessoal. No trato social são atenciosos, cordatos e comunicativos. No geral, têm bom nível intelectual. Muitos deles são professores e falam mais de uma língua.
No Ginásio de Esporte onde estão precariamente acomodados, ouvimos do líder do grupo o relato de suas dificuldades para se estabelecerem no país que julgaram poder acolhê-los: o Brasil.
Muitos deles fizeram o percurso de Iñapari (Peru), até o Brasil andando a pé, dia e noite, e se alimentando precariamente.  
Há mais de dois meses vivem coletivamente no referido ginásio.  Não há lençóis, os colchões são insuficientes, muitas vezes têm apenas uma refeição diária.   
Estas dificuldades materiais não os desanimam. Observamos que a principal queixa refere-se à lentidão para a emissão dos documentos  que os habilitem a buscarem um posto de trabalho nos Estados que disponham de maior oferta, a exemplo de Rondônia e São Paulo.
Os documentos - dizem – vêm sendo emitidos, mas, não com a celeridade que suas situações dramáticas exigem. Estão a dois meses sem trabalhar. Para trás, muitos deixaram mulheres, filhos, irmãos e pais desamparados.
Na nossa avaliação constatamos que lhes faltam interlocutores oficiais. Disseram-nos que apenas interagiam com um representante da Prefeitura Municipal e com a  Polícia  Federal. Sem se falar do apoio - louvável – que recebem das  Igrejas.
Munidos dos devidos documentos que os habilitem ao trabalho, rapidamente o grupo se dispersaria – pensamos – dentro do imenso território brasileiro. Sem os documentos, ficam vulneráveis ao recrutamento para a criminalidade.
Percebemos que há certa má vontade em acolher os haitianos. Muitos alegam que vão ocupar postos de trabalho que seriam dos brasileiros. Um equívoco! Um país como o Japão, com superpopulação, é, ainda hoje, receptor de imigrantes pobre, inclusive do Brasil. Os Estados Unidos é uma potência graças à imigração que recebeu. 
Somos um país cristão. Não podemos esquecer que a Bíblia está permeada de ensinamentos relativos à hospitalidade com o estrangeiro. Diz o Deuteronômio: “Lembra-te que foste estrangeiro no Egito”.

Valdir Perazzo é Defensor Público de 2º Grau
Gilliard Souza é assessor jurídico


Nenhum comentário:

Postar um comentário